Escrever é como tecer uma teia de aranha


I

Quando escrevo tenho sempre a sensação de estar a tecer uma teia de aranha. Eu sou a aranha, e teço a minha teia de palavras esticando-as o mais que posso. E o mais importante é sempre algo que está fora da escrita e eu tento atrair e capturar. Mas depois de tecida a teia não posso ficar à espera, tenho de me ir embora e deixá-la para trás.

II

O escritor escreve da mesma forma que a aranha tece a sua teia. Primeiro ele tem um relance de algo fundamental, e fica à espera que algo em si desperte e se prenda a essa alguma coisa que pressente. Então, vai deixando que esse algo cresça em si e ganhe consistência. Só depois, com persistência, com precisão, escreverá as palavras com que tentará atrair e prender a sua presa. No final, aperfeiçoará e decorará a sua teia que, ao contrário da aranha, terá que abandonar de imediato.


III

Quando escrevo,
sou uma aranha diligente
a tecer uma teia inútil:
a escrita é cheia de buracos
e nunca vou capturar a minha presa.

Mas isso não me preocupa nem um pouco:
escrevo apenas porque me é necessário.