Poemas incompletos

I

Noadhibou

Sento-me no areal pontilhado de detritos.
No céu, sempre igual, brilha um sol branco;
no mar, a perder de vista, centenas de barcos
enferrujam ao som de um comboio
que parece não ter fim.

Que outra coisa posso pensar a não ser que
a realidade não passa de um sonho?

II

Dakhla

Não escrevo com fome,
nem com a barriga cheia.

Não escrevo com a cabeça,
nem com o coração.

Quando escrevo, não sou nada,
só assim posso ser tudo.

III

Em viagem

Quando parto,
(para dentro de mim próprio)
sei que só encontrarei
o que levar comigo.
Por isso, viajo leve e
avanço sem hesitar.

Só no deserto se encontram oásis.

IV

Chegada

Ao chegar verifico,
sem surpresa,
não ser o mesmo que partiu.

No entanto,
agora como então,
limito-me a ser quem sou.