A reviravolta

Tu sabes de ti e eu sei de
mim, disse ele. E com isto
queria afirmar que cada
um deve fazer o que tem
de fazer, que cada um pode
fazer o quer, mas depois tem
de aceitar o mesmo nos outros.
E quando assim falava,
não estava zangado, nem
mesmo triste, não senhor,
nada, mas mesmo nada disso.
Ele sempre pensara mal e
compreendera pior, mas
nunca deixara de procurar
a sua verdade, e essa verdade
estava agora ao seu alcance.
Tinha finalmente descoberto
uma filosofia que lhe assentava
como uma luva, talhada numa
frase simples e despretensiosa.
Por isso passou a repeti-la com
frequência, e, se querem saber,
nunca mais se sentiu ansioso com os
outros, que era afinal o que antes
sempre, mas sempre, lhe sucedia.