Ai das palavras

Regresso de fim-de-semana quando, de repente,
bigode e farta pêra, fato e gravata,
os olhos turvos de tédio,
enorme, gigantesco, descomunal
dou de caras com

o rosto da verdadeira mudança

e fico triste, e zangado, e com pena,
não da ridícula carantonha assim pomposamente designada,
mas daquelas pobres palavras
lamentavelmente, irremediavelmente
expostas ao olhar de quem passa,
lúgubre monumento às palavras que
morrem todos os dias num silêncio envergonhado
sem nada terem para dizer.

Por isso escrevi este poema,
com essas mesmas palavras,
para que possam agora e aqui
chorar e rir de indignação.